Economia Emprego

Desemprego na pandemia sobe a recorde de 14 milhões de desempregados em novembro

Número registra alta de 38,6% na comparação com maio, quando o IBGE começou a fazer a pesquisa Pnad Covid. Piora é puxada pelo Nordeste
Desemprego chega a patamar recorde de 14,2% na pandemia em novembro, segundo o IBGE Foto: Agência O Globo
Desemprego chega a patamar recorde de 14,2% na pandemia em novembro, segundo o IBGE Foto: Agência O Globo

RIO — O número de desempregados bateu recorde durante a pandemia e atingiu 14 milhões de pessoas em novembro, segundo dados da Pnad Covid, divulgada hoje pelo IBGE.

O contingente é 2% acima do registrado em outubro, mas, se comparada com maio, quando a pesquisa começou, houve um aumento de 38,6% na população desocupada, que são aquelas que estavam sem trabalhar, mas aptas e procurando emprego.

Com pandemia: Trabalho temporário vira prática nas empresas para repor vagas

Com isso, a taxa de desemprego ficou em 14,2% em novembro. Em outubro foi de 14,1% e em maio, de 10,7%. Por outro lado, esta foi a primeira vez que a taxa de ocupação teve alta (0,3%) na comparação com maio.

A coordenadora da pesquisa, Maria Lucia Viera, explica que o aumento tanto da desocupação quanto a ocupação:

—  De julho para cá, as pessoas saíram do isolamento e, com isso, aumentou o número de pessoas procurando emprego. Algumas conseguiram, mas ainda não o suficiente para que a taxa de desemprego caísse.

O desemprego é pior para as mulheres (17,2%) e para os pretos e pardos (16,5%). No caso de homens, a taxa de desocupação é de 11,9% e para brancos, de 11,5%.

Caged: País cria 414,5 mil vagas com carteira assinada em novembro

Expctativa de melhora

Na casa de Marcos André da Conceição, de 23 anos, na Olaria, o desemprego impactou com força no orçamento da casa. Ele foi demitido da fábrica de panificação onde trabalhava, no Centro do Rio, e está há seis meses procurando outra vaga. Durante a pandemia, sua mãe, que é cuidadora, também foi dispensada. Agora, eles contam apenas com o auxílio emergencial e a renda do pai dele, que é autônomo e está segurando as contas.

— Perdi as contas de quantos currículos enviei. Fui entregar presencialmente em várias empresas também, tinha muita gente. Até agora, fiz só cinco entrevistas e estou esperando duas respostas — diz Conceição, que aguarda ser chamado.

Ele completa: — Ainda tem muitas restrições, vai ser difícil até voltar ao normal, mas espero que melhore. Estou pensando em ir para o lado do empreendedorismo, talvez algo no ramo alimentício.

Já Debora da Silva, de 20 anos, está desempregada há um mês. Ela conta que estava trabalhando há cinco dias na área de atendimento ao cliente de uma empresa em São Paulo, quando o comércio foi fechado. Durante este tempo, diz, a empresa não fez suspensão nem redução de contratos, mesmo ficando fechada de março a julho. Em novembro, porém, veio a demissão. Para ela, sua vida toda pode mudar se não conseguir outra vaga:

— Quando consegui este emprego foi algo muito grande para mim, porque eu só tinha trabalhado como aprendiz até então, com menos de um salário mínimo. Ao ser contratada, eu me mudei para São Paulo, aluguei um apartamento com outros amigos. Doeu muito ser demitida. Por enquanto, vou continuar procurando emprego e morando na capital com a reserva que tenho.

Desemprego maior no Nordeste

O aumento da população desocupada foi mais forte na região Nordeste, onde a taxa subiu de 17,3% para 17,8%.

Um outro dado do levantamento é que Norte e Nordeste foram as regiões com os maiores percentuais de domicílios recebendo auxílio emergencial: 57,0% e 55,3%, respectivamente.

Maria Lucia explica que o resultado de novembro pode ter sido impactado pelo movimento sazonal dos empregos temporários e que esse movimento no Nordeste pode ter relação com a redução do auxílio emergencial.

— A gente vê algumas coisas em relação ao Nordeste. Lá, as pessoas tiveram medidas mais restritivas então podem ter tido mais dificuldade de sair para procurar emprego. É também uma região mais informal, que assim como a Região Norte, foi muito afetada na pandemia, então pode haver alguma dificuldade de essas pessoas estarem voltando a atividades regulares —  diz Maria Lucia.

Auxílio emergencial: Redução impacta renda das famílias e vendas no comércio

Ela sublinha que o Nordeste foi a região com mais pessoas recebendo o auxílio emergencial do governo federal no país e a que mais sentiu a redução do benefício, que será suspenso:

—  Isso pode estar fazendo com que essas pessoas precisem retornar ao mercado de trabalho, porque pode estar relacionado. Agora, a gente não tem a informação se essas pessoas que recebiam auxilio já estavam ocupada ou não.

Esta é a última pesquisa da série iniciada em maio para acompanhar os efeitos na pandemia sob alguns aspectos, como trabalho, testagem e isolamento.

Confira : Entenda as diferenças entre as pesquisas de emprego

Os dados da Pnad Covid divulgados hoje não são comparáveis aos da Pnad Contínua, que tem informações trimestrais. Porém, vale lembrar que no trimestre terminado em setembro, o indicador oficial do desemprego no país também também atingiu recorde de 14,6%, totalizando 14, 1 milhões de pessoas sem emprego.