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    Obra do metrô desmorona em São Paulo e interdita Marginal Tietê

    Secretário de Transportes Metropolitanos afirma que houve rompimento de esgoto no local, por onde passará a linha 6-Laranja do metrô; não houve vítimas

    Julyanne JucáCarolina FigueiredoÁlvaro GadelhaGiovanna Galvanida CNN

    em São Paulo

    Um acidente em uma obra da linha 6-Laranja do metrô deSão Paulo fez com que um pedaço da Marginal Tietê, uma das principais vias da capital, desmoronasse na manhã desta terça-feira (1º). A Polícia Militar (PM) informou que o Corpo de Bombeiros foi acionado às 08h50 para o desmoronamento. Não há registro de vítimas.

    Segundo a PM, o acidente aconteceu na altura da Avenida Otaviano Alves de Lima, número 10 (veja mapa abaixo). A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que a pista expressa da Marginal Tietê sentido rodovia Ayrton Senna foi liberada totalmente, e que há operação para desviar carros da pista local e da pista central do local interditado.

    O rodízio municipal de veículos na capital paulista foi suspenso nesta terça-feira tanto durante o período da manhã quanto no da tarde e noite.

    Já a Sabesp, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, informou em conjunto com a Secretaria de Transportes Metropolitanos que um comitê foi criado para investigar a causa do acidente e fazer estudos para a realização de obras de drenagem, recuperação para a retomada das obras do metrô, conserto da tubulação e da Marginal Tietê.

    A primeira reunião do comitê já foi realizada e contou com a participação de 20 pessoas envolvidas na solução da situação. Uma equipe técnica da Sabesp também trabalha para reverter o esgoto da tubulação danificada para uma outra tubulação, tentando esvaziar o local que recebeu o transbordamento.

    Respostas das autoridades

    No início da tarde desta terça, o secretário de Transportes Metropolitanos do estado de São Paulo, Paulo Galli, disse que não houve perfuração por parte do “tatuzão”, escavadeira que abre o caminho para o túnel em que o trem passará, conforme havia sido anunciado anteriormente pelo Corpo de Bombeiros.

    “Houve rompimento de esgoto que passa no sentido da Marginal Tietê, no final na embocadura do túnel da linha 6. Foi a galeria de esgoto, não é o rio, não foi um choque do tatuzão com a rede, não é isso”, declarou Galli.

    “A água inundou um estacionamento que já existia embaixo da Marginal Tietê, e retornou enchendo também o túnel que seria para a Linha 6 do metrô. Não sabemos a causa, vai ser investigado. Vamos trazer auditoria externa”, afirmou o secretário.

    A Acciona, que constrói a linha 6-Laranja do metrô, endossou a informação de que o acidente ocorreu por um “rompimento de uma coletora de esgoto próximo ao VSE Aquinos (Poço de Ventilação e Saída de Emergência)”, e afirmou que equipes e demais técnicos “estão no local para apurar os fatos”. “Todas as medidas de contingência já foram tomadas”, completaram.

    Segundo a concessionária, a Defesa Civil esteve no local e, até o momento, “não houve recomendação de evacuação na vizinhança”. As obras necessárias para recuperação da pista local da Marginal Tietê já foram iniciadas.

    “A equipe técnica segue reunida para definir as melhores soluções de engenharia para dar continuidade nas ações de mitigação dos danos e retomar as obras”. “O incidente é pontual e não interfere nas demais frentes de trabalho do projeto, que seguem em execução”, complementa a Acciona e a Linha Uni.

    Todos os funcionários conseguiram sair do local, mas quatro pessoas que tiveram contato com a água contaminada receberam atendimento médico, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em uma entrevista concedida em conjunto com o presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Benedito Braga, e com o presidente da Acciona, André de Angelo.

    Braga, por sua vez, afirmou que a Sabesp trabalha na recuperação do coletor de esgoto rompido.

    “Estamos usando um coletor antigo substituto, e nesse momento a quantidade de esgoto que chega aqui é muito menor do que a que chegava pela manhã. A situação não representa grande problema neste momento, e até o final do dia essa situação vai estar resolvida”, declarou.

    O presidente da Sabesp também afirmou que “não tem nenhum problema com a calha do rio Tietê”. Em nota, a empresa afirmou que acompanha o incidente e que “todas as medidas necessárias para contenção do problema e estabilização da pista da Marginal Tietê estão sendo tomadas”.

    A Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente informou à CNN, por telefone, que técnicos do Departamento de Águas e Energia Elétrica estão no local do acidente. Segundo a pasta, a avaliação preliminar não constata que o desmoronamento tenha afetado o rio Tietê.

    Em uma publicação nas redes sociais, Doria endossou a informação de que não existem vítimas do acidente e disse ter determinado “apuração imediata das causas e elaboração de plano da concessionária responsável pela obra, junto à prefeitura da capital, para normalização do tráfego da Marginal rapidamente”.

    “E que as obras possam ser reiniciadas, com segurança, o mais breve possível”, completou.

    O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse que o “trabalho conjunto” entre órgãos públicos e privados possibilitará mais informações sobre a liberação da Marginal, que só operava integralmente pela via expressa até o fim da tarde desta terça.

    “O trabalho está conjunto: Prefeitura, Sabesp, Metrô, Acciona, nossa Secretaria de Transporte, a CET. Lembrando que a CET já elaborou um plano de ação com relação ao trânsito”, afirmou.

    “O que a gente tem agora de consenso é que é necessário fazer tudo o quanto antes para minimizar os estragos e as obras serem retomadas. A gente tem que trabalhar para a cidade voltar ao normal, porque o transtorno em uma uma via onde passam 450 mil veículos por dia é gigantesco”, declarou.

    A Marginal Tietê, construída nos anos 1960, é uma das principais vias expressas da capital paulista, ligando as zonas Norte, Oeste, Leste e Central de São Paulo.

    Quem passa pelo sentido Ayrton Senna também chega às rodovias Dutra e Fernão Dias; pelo outro lado, há acesso à rodovia dos Bandeirantes, Anhanguera e Presidente Castello Branco.

    Instabilidade das obras pode ter gerado desmoronamento, diz engenheiro

    Em entrevista à CNN, o engenheiro civil Paulo Ferreira, presidente do Instituto de Engenharia, avaliou que a vibração causada pelo tatuzão pode ter gerado uma instabilidade na galeria de esgoto e, consequentemente, uma ruptura e vazamento da água.

    "Houve uma interferência das obras do metro em uma galeria de grande diâmetro que corre paralela à marginal direita do Rio Tietê, e que leva o esgoto de uma parte da região Norte para a estação de Barueri", disse.

    "O que parece ter acontecido é que, com as obras, houve uma movimentação do solo que provocou uma ruptura, lançou esse esgoto e fez essa cratera. Essa instabilidade foi provocada certamente pela intervenção feita no local", analisou.

    Segundo o engenheiro, agora é necessário escoar a água do esgoto de volta ao rio, aumentar a vala para iniciar os reparos e estabilizar a região para prosseguir com a recuperação deste trecho da Marginal Tietê -- um trabalho que, com celeridade, deve durar cerca de 2 meses, afirmou Ferreira.

    Ministério Público instaura inquérito para apurar desmoronamento

    Nesta terça-feira (1º), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou, por meio da Promotoria de Justiça de Habitação da Capital, um inquérito civil para investigar as causas do acidente que levou ao desmoronamento de uma parte da Marginal Tietê.

    Será analisado a extensão dos danos urbanísticos e ambientais no canteiro de obras e na via, que segundo o MP-SP, prejudicou a mobilidade urbana do município.

    A Acciona, responsável pela construção, já recebeu solicitações de informações do MP, e a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos deve apresentar uma cópia do contrato da parceria público privada (PPP) com a empresa.

    O MP afirmou que "a Sabesp e a CET deverão prestar esclarecimentos, respectivamente, sobre a rede de esgoto e ordenação do trânsito na região".

    Linha 6-Laranja

    O projeto da linha 6-Laranja, também conhecida como Linha Universidade por ligar diversas instituições de ensino superior da capital, possui 15 km de extensão e contará com 15 estações, com conexão entre os bairros da Brasilândia, na zona norte, e a estação São Joaquim, na região central da cidade de São Paulo.

    As estações previstas são Brasilândia, Vila Cardoso, Itaberaba, João Paulo I, Freguesia do Ó, Santa Marina, Água Branca, Sesc Pompeia, Perdizes, PUC-Cardoso de Almeida, Angélica/Pacaembu, Higienópolis/Mackenzie, 14 Bis, Bela Vista e São Joaquim.

    Previsão final da Linha 6-Laranja do metrô de São Paulo, de acordo com os planejamentos do governo do estado / Reprodução/Governo de SP

    A construção da Linha 6-Laranja teve início em janeiro de 2015 com notícias primeiramente com a concessionária Move SP -- formada pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC.

    Em setembro de 2016, o consórcio informou a paralisação integral das obras civis, alegando dificuldades na obtenção de financiamento no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

    Em fevereiro de 2020, o grupo espanhol Acciona adquiriu do consórcio Move São Paulo os direitos na parceria público privada (PPP) para a construção, operação e manutenção da linha.

    “Até o momento, a Linha 6-Laranja é a maior obra de infraestrutura do país e de parceria público-privada, com R$ 13 bilhões de investimento privado”, disse João Doria no dia do anúncio da nova concessão.