24 de agosto de 2021

O batismo de fogo de uma piloto e o hiato da política contra incêndios

No último dia 20, Joelize Friedrichs se tornou a primeira mulher piloto agrícola de combate a incêndios do País, com o setor ainda no aguardo de uma política que valorize a inteligência de recursos contra as chamas no País

A gaúcha Joelize Friedrichs, 31 anos, se tornou neste mês a primeira mulher piloto agrícola de combate a incêndios no Brasil. O batismo de fogo foi em uma operação no município de Campo Alegre de Lourdes, no norte da Bahia. A piloto da Aeroterra Aviação Agrícola está na região desde sexta-feira (dia 20), com a empresa atuando ali a serviço do Programa Bahia sem Fogo, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Natural da cidade gaúcha de Não-Me-Toque e piloto agrícola desde 2012, Joelize começou a atuar este ano no oeste da Bahia e concluiu no início do mês o seu treinamento para operações contra as chamas.

As operações em Campo Alegre de Lourdes começaram com duas aeronaves turboélice agrícolas, que se somaram a outras duas nesta semana. Os quatro aviões garantem suporte a equipes com cerca de 60 bombeiros e brigadistas. Além do apoio de veículos e máquinas das prefeituras local e do município vizinho de Pilão Arcado. As chamas ocorrem em uma região de caatinga e de ventos fortes. O fogo começou na última quinta-feira (10), em uma região conhecida como do Baixão do Jacu e já se alastrou para outras seis localidades.

Joelize se tornou, no dia 20, a primeira piloto agrícola de combate a incêndios do País…

OUTRAS FRENTES
Além da Bahia, atualmente aviões agrícolas estão atuando no combate a chamas no Mato Grosso do Sul, no interior paulista e em Goiás. Em julho, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizou um pregão para a contratação de aeronaves para atuarem nas reservas administradas pela entidade. A licitação garantiu a continuidade do serviço, depois do fim do prazo da contratação feita em 2009. Paralelamente, segue tramitando na Câmara Federal o Projeto de Lei (PL) 4.629/2020, que inclui a aviação agrícola nas estratégias governamentais para o combate de incêndios florestais. Neste caso, dando segurança jurídica a administradores para apostar de maneira mais efetiva na ferramenta.

De autoria do senador Carlos Fávaro, o PL 4.269 foi aprovado em outubro do ano passado pelo Senado. O projeto tramita agora na Câmara dos Deputados, onde foi aprovado em abril na Comissão de Meio Ambiente da casa, com parecer do deputado Zé Vitor (PL-MG). De lá para cá, ele segue na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), já com parecer favorável do deputado José Medeiros (Podemos-MT). Ele precisa se aprovado na CCJC para ir a plenário.

A aposta do Sindag é de que a proposta promova o uso racional de recursos públicos e o aprimoramento das estratégias de combate incêndios em áreas de vegetação. Isso à medida que se aproveita de maneira inteligente aeronaves e pilotos e pessoal de apoio altamente experientes. “Uma mão-de-obra que passa o ano todo voando em atividade intensa sobre lavouras e faz toda a diferença contra incêndios em um período que justamente estão parados pela entressafra”, explica o presidente do sindicato aeroagrícola, Thiago Magalhães Silva.

ANTES DA CATÁSTROFE

O dirigente explica que a aprovação da lei ajudaria a trazer para o setor público uma inteligência de recursos que já é cada vez mais empregada pela iniciativa privada. A exemplo de produtores rurais de Goiás e de usinas sucroalcooleiras de São Paulo, que já perceberam o valor da presença do avião desde o primeiro momento no combate às chamas em suas lavouras. Ela diminui danos à vegetação, reduz o desgaste de pessoal e equipamentos e protege a fauna.

Sem falar na proteção das brigadas em terra e no menor risco do fogo chegar a áreas vizinhas (de lavouras, reservas naturais ou mesmo comunidades). “Em última instância, um planejamento que otimiza recursos, reduz tempo de resposta, aumenta segurança e poupa recursos financeiros. Tudo por se atacar decididamente o problema antes dele se tornar catastrófico”, completa Magalhães.

 

… …com outros colegas atuando com ela em Campo Alegre de Lourdes, no norte baiano (foto), assim como em diversas outras áreas no Centro-Oeste e Sudeste do País

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